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COMPORTAMENTO INFANTIL
SIGMUND FREUD, ANNA FREUD 
ERIK ERIKSON

Anna Freud

Freud (Sigmund Freud, 1856 -1939)

Sua teoria psicanalítica aborda o desenvolvimento psíquico humano com base no desenvolvimento psicossexual. O ser humano nasce ainda incompleto, vulnerável e dependente de cuidados. Há uma marcante imaturidade neurológica ao nascer (visão sem foco nítido, fibras nervosas ainda não mielinizadas, motricidade imatura etc.). Desde suas primeiras experiências após o nascimento, a criança vai aos poucos tomando consciência de sua existência e se relacionando com o ambiente onde vive. E ela o faz a partir de seus sentidos, pela percepção dos cuidados recebidos e satisfação de suas necessidades. À medida que a criança cresce e com o natural amadurecimento anatômico e funcional dos tecidos e órgãos, ela progressivamente tem oportunidades de experimentar novos e diferentes estímulos neurossensoriais e ampliar sua percepção sobre si mesma e sobre o contexto familiar e social em que está inserida. Todas essas experiências vão deixando registros mentais permitindo, entre outros, o desenvolvimento cognitivo, psicossocial e afetivo da criança.

 

Nesse contexto, Freud destaca que as experiências mais significativas e que ficam registradas de modo mais marcante, são aquelas relacionadas à satisfação das necessidades da criança. Registros de tensão (por exemplo, a fome, a sede) e de satisfação de necessidades (por exemplo, a amamentação), são apontados por Freud como sendo essenciais para o desenvolvimento saudável. As tensões impostas pelas necessidades de cuidados e as sensações de prazer geradas pela satisfação delas, são impulsos vitais para a formação da estrutura psíquica. Freud, considerando o grande prazer ou gratificação que esses impulsos de tensão e satisfação causam, os caracterizou como aspectos da sexualidade infantil e os associou ao desenvolvimento psicossexual do indivíduo. É importante destacar que o significado da sexualidade infantil aqui colocado difere dos aspectos da sexualidade do adulto, já que não se relaciona especificamente ao sistema genital. Seu significado passa pela sensação genérica de prazer ou satisfação e pelo auto entendimento e descoberta do próprio corpo. Seu desenvolvimento é marcado pela força da "libido" (do latim: desejo, vontade) que assume diferentes aspectos e regiões do corpo da criança onde se concentram suas vontades e gratificações prazerosas ("zonas erógenas").  Essas regiões variam, dependendo da fase em que  a criança se encontra. São as cinco fases do desenvolvimento psicossexual descritas por Freud:

Fase Oral

O primeiro ano de vida se caracteriza como uma fase de total dependência de cuidados por parte dos adultos, onde a mãe se destaca como a figura central. O principal aspecto a ser garantido à criança nesse momento é sua alimentação, condição básica para sua sobrevivência. Isso faz da sucção e deglutição, funções essenciais que, já estando presentes ao nascimento a termo, permitem que a criança tenha suas primeiras e mais importantes experiências registradas. Assim, o recém-nascido e o lactente concentram, nessa fase, os estímulos neurossensoriais mais gratificantes de sua vida, na boca, na língua, na faringe, relacionados às sensações táteis e sensações gustativas/olfativas (comer, morder, beber, sugar). Se antes, a sensação de fome causava na criança tensão, desconforto e angústia agravadas pela  incerteza  sobre  o  cuidado  a  ser  recebido,  por  outro  lado,  o 

Baby Breastfeeding

momento da amamentação ao seio, a conduz à plena satisfação e gratificação, percebidas como sensação de grande satisfação. Ao receber alimento as tensões são aliviadas. Adicionalmente, a criança também recebe conforto e carinho (toque, colo, acalento) o que confere a ela uma prazerosa sensação gerada pelo contato afetuoso da mãe. Nessa fase, a criança, de forma egocêntrica, só se interessa pela sua própria gratificação, pelo seu próprio prazer (narcisismo infantil). O papel dessa fase na constituição da personalidade é muito importante e se relaciona, entre outros, à imagem que o indivíduo tem sobre si mesmo, sua autoestima.

Fase Anal

​No segundo e terceiro anos de vida, a criança já é capaz de reconhecer o limite entre seu mundo interno e o mundo externo. Ela está plenamente consciente de sua individualidade em relação ambiente que a circunda, conseguindo diferenciar o seu ponto de vista do ponto de vista dos outros. Nessa fase, a experiência mais significativa e marcante é o treinamento e a aquisição do controle esfincteriano (anorretal e uretral). O amadurecimento da inervação da musculatura pélvica e o desenvolvimento do controle voluntário sobre eliminação de fezes e urina faz da região anorretal, a zona erógena do momento, onde a libido agora se concentra. A criança percebe que seus desejos de retenção ou expulsão podem colocá-la em conflito com as expectativas e normas do mundo exterior (essa percepção acontece principalmente nas experiências de treinamento do uso do vaso sanitário e no conhecimento de normas sobre quando e onde ela pode evacuar ou urinar). Esse é um dos primeiros primeiros conflitos entre a criança e as exigências da vida social, mas também um agradável sentimento de realização e independência.

A forma como esse processo acontece, poderá influenciar o comportamento da criança e, futuramente, do adulto. Caso o treinamento aconteça muito precocemente ou caso seja muito rigoroso, a criança poderá desenvolver uma personalidade retentiva (obsessão por arrumação e organização, com pontualidade e respeito à normas e à autoridades. Tendem a ser rígidos no trato com o dinheiro e seus bens. Se o treinamento for muito liberal, poderá desenvolver uma personalidade expulsiva (desapegada, desorganizada, descompromissada e rebelde em relação a regras e normas). 

Fase Fálica

​No período que vai de três a cinco anos, a criança já tem consciência do mundo que a rodeia, demonstra mais interesse pelo ambiente e deseja saber os "por quês" de todas as coisas. Começa o interesse pela origem dos bebês através de questionamentos como “De onde eu vim?” “Como eu nasci?”

 

A fase fálica tem grande importância na formação da identidade sexual da criança. O amadurecimento anatômico e funcional atingido nessa fase, permite que a libido agora se focalize nos órgãos genitais. Nesse momento, a criança os “descobre” nas experiências prazerosas de os tocar e manipular. Nessa fase acontece também a percepção e a exploração das diferenças anatômicas sexuais entre meninos e meninas, ocasião em que são muito comuns as brincadeiras de médico, enfermeiro etc. As crianças se dão conta de que os meninos têm pênis e de que as meninas não têm.

Na fase fálica emerge o complexo de Édipo, em que os meninos desejam ter a mãe só para eles e, consequentemente, percebem a figura do pai com rivalidade. O conflito que emerge nessa relação está no desejo do filho de que a figura paterna desapareça para que ele possa ter a mãe só para si. Este conflito nasce da ambivalência entre sentimentos de amor e ódio. Por outro lado, o menino teme ser punido pelo pai com a castração ("ansiedade da castração"). A resolução saudável e esperada do complexo de Édipo acontece quando o menino reprime o seu desejo pela mãe e passa a se identificar com o pai. A menina deseja o pai só para ela e tende a se rivalizar com a mãe, a quem culpa pela ausência do pênis ("inveja do pênis"). Mas, ao mesmo tempo, entende que precisa se identificar com a figura materna a fim de obter o amor do pai. Dessa forma ocorre também a superação do complexo edípico, condição essencial que conduz ao desenvolvimento da identidade sexual madura em ambos os sexos.

Fase de Latência

​Essa fase se estende dos seis anos de idade até a puberdade e coincide com a idade escolar. É o período em que ocorre sublimação da libido, considerando que ela se volta agora para a socialização da criança, observada nas relações entre colegas, através de hobbies, brincadeiras, esportes, artes e atividades intelectuais. Nota-se nítida preferência para o relacionamento com crianças do mesmo sexo, fortalecendo assim, a definição da identidade sexual. Essa fase é muito importante para o desenvolvimento de habilidades sociais e de comunicação como também para a aquisição de autoconfiança. Por todas essas razões, a vida escolar, nessa fase, ganha um papel de destaque na vida da criança.

Crianças jogando futebol

Fase Genital

 

Essa fase tem início na puberdade, quando a libido retorna aos órgãos genitais. É marcada pelo amadurecimento dos sistemas endócrino e genital, trazendo mudanças físicas, psicológicas e comportamentais. Existe nesse momento uma separação emocional do adolescente em relação a seus pais. A busca pela independência passa a ser uma meta e um marco no estilo de vida. Nesse período os adolescentes já estão cientes de suas diferenças sexuais, os impulsos sexuais se tornam mais intensos e ocorre um interesse significativo pelas experiências sexuais. É na fase genital que o desejo sexual se torna adulto. Sentimentos edipianos não resolvidos na fase fálica podem retornar agora na fase genital e ocasionar transtornos psicológicos e comportamentais. Mas, quando a criança progride de forma equilibrada pelas fases anteriores, resolvendo os diferentes conflitos de forma satisfatória, se tornarão adultos psicologicamente saudáveis.

As Instâncias Psíquicas segundo Freud

 

O psiquismo ou estrutura psíquica do indivíduo, segundo Freud, pode ser compreendido como se a mente fosse dividida em compartimentos. Num primeiro modelo descrito por ele, a atividade mental se organiza em três níveis: O consciente, o Pré-Consciente e o Inconsciente. 

Consciente:

Corresponde à atividade mental presente e ativa. Pode ser acessada livre e voluntariamente. Está diretamente relacionada à conexão da vida mental com o mundo externo.

 

Pré-consciente:

Corresponde a conteúdos que não estão presentes ou ativos, e, embora não sejam acessados livremente, podem emergir na consciência com algum esforço de busca. O Pré-Consciente estabelece uma interface entre o inconsciente e o consciente podendo exercer a função de um "filtro" entre ambos.

 

Inconsciente:

É o maior e o principal compartimento segundo Freud, sendo por ele considerado como o grande responsável pela personalidade do indivíduo. Contém todo o conjunto de conteúdos, impulsos, desejos, instintos e memórias. É atemporal, se move pelo princípio do prazer, da gratificação. Embora tenha forte influência sobre o comportamento, seus conteúdos permanecem ocultos da consciência, protegendo-a e viabilizando a vida cotidiana e social. 

Freud propõe um segundo modelo, em que a vida psíquica apresenta três instâncias:

 

Id: é a sede dos impulsos que motivam o indivíduo a buscar a satisfação de suas necessidades visando maximizar o prazer e/ou minimizar o desprazer. O Id é atemporal, instintivo, amoral, não lógico, não verbal, mas imagético (se expressa por meio de imagens ou símbolos), sendo fonte das pulsões que, embora residam no inconsciente, embasam a personalidade.

 

Ego: se desenvolve a partir do Id, à medida que a criança vai construindo a sua própria identidade. Exerce função mediadora entre as pulsões do Id e a realidade. Com lógica e racionalidade o ego trabalha a mente em atividade, regulando a atuação do indivíduo no mundo concreto. Está permanentemente atento ao objetivo de preservar a saúde física, a sanidade e a segurança do indivíduo. Diferente do Id que trabalha com o princípio do prazer, o Ego funciona segundo o princípio da realidade.

 

Superego: surge do Ego, a partir da internalização de valores e normas sociais. É responsável pela consciência moral e pela idealização do Ego. É onde residem os códigos de conduta aprendidos no convívio social, as inibições, mas também os ideais. Atua como um juiz das ações e pensamentos do Ego. Age no sentido de proibir ou limitar. Uma função característica do superego é a auto-observação. O superego da criança se desenvolve a partir da introjeção do superego de seus pais, considerando os julgamentos, valores e tradições apreendidos pela criança. É responsável pelo sentimento de orgulho e de elevada autoestima por conta dos comportamentos aprovados, mas também gera sentimentos de culpa e inferioridade pelos que são socialmente desaprovados.

Anna Freud (1895 -1982)

Anna Freud dedicou parte de seus estudos psicanalíticos à faixa etária da adolescência, sabidamente um período de conflitos e contradições. Para ela, nessa fase da vida, ocorre uma recapitulação de questões vivenciadas nas fases oral, anal e fálica, agora, porém, numa nova dimensão, distinta daquela experienciada durante a infância. Os sentimentos de conflito vividos naquelas fases são despertados na puberdade. Entretanto, nesse período agora, questões como o medo de punição, por parte das figuras parentais, relacionadas ao complexo de Édipo, são minimizadas devido ao amadurecimento psíquico e a busca por independência e identidade, fatos que levam o adolescente a concentrar-se mais em si e em sua autoestima. Alguns mecanismos psíquicos são desenvolvidos como oposição aos impulsos que vêm do id. Destacam-se o ascetismo e a intelectualização, que permitem que o adolescente se concentre em atitudes de contemplação ou de racionalização, geralmente com deslocamento de interesses para  questões que se opõem aos seus conflitos internos. A vida afetiva do adolescente também se desloca das figuras parentais para se direcionarem a seus pares sociais. Nessa perspectiva, Anna Freud considera como necessária e esperada essa "revolução" marcante no "redespertar" da sexualidade na adolescência, após o período de latência. 

Casal jovem

Anna Freud trabalhou o conceito de linhas de desenvolvimento, destacando que a criança se desenvolve de modo contínuo e cumulativo. Nesse continuum, há possibilidade da criança avançar (seguir em frente na linha) ou ir para trás (regredir). Segundo ela, a criança pode eventualmente passar por momentos curtos de regressão, para conseguir superar algum conflito. Após sua superação, ela pode voltar a avançar. Um outro aspecto que merece ser destacado em sua obra é a maior importância que ela deu ao ego (mente consciente) e a seus mecanismos de defesa. Em seus estudos, busca demonstrar como o ego tenta se proteger da força dos instintos, das punições do superego e das ameaças do meio externo, por meio de variados mecanismos de defesa. Os mais importantes são destacados abaixo:

Anulação: cancelamento de experiências prévias  desagradáveis. 

Formação reativa: comportamento pautado em ideias, afetos ou desejos que se opõem a impulsos temidos provenientes do inconsciente. 

Deslocamento: redirecionamento de impulsos para alvos alternativos substitutos. 

Introjeção: assumir para si, características da personalidade de outras pessoas com quem se identifica.

Negação: recusa sistemática e consciente em perceber aspectos perturbadores.

Projeção: atribuição de características  próprias indesejáveis a outras pessoas.

Racionalização: substituição de motivos reais para determinados comportamentos por explicações racionais socialmente aceitáveis.

Jovens músicos

Regressão: retorno a formas de gratificação de fases anteriores e já superadas.

Repressão:  deleção de pensamentos ou desejos perturbadores do consciente, direcionando-os ao inconsciente.

Sublimação:  direcionamento parcial de impulsos sexuais para atividades socialmente aceitáveis.

Erik Erikson

Erik Erikson (1902 -1994)

Contemporâneo de Anna Freud, Erik Erikson também se dedicou ao estudo da adolescência, considerando-a fundamental no processo do desenvolvimento. Debruçou-se igualmente sobre o estudo das crises do ego e seu papel na formação da identidade e, assim como Vygotsky, investigou influências culturais no desenvolvimento psicológico das crianças. Mas, para ele, o desenvolvimento corre no sentido da formação da identidade. Ele identificou oito estágios evolutivos denominados por ele “oito idades do homem”. Cada uma dessas "idades" é marcada por um determinado conflito, cuja resolução permite evoluir para a idade seguinte, sempre buscando um status de equilíbrio. As quatro primeiras idades se passam na infância, a quinta, na adolescência e as três últimas se dão já na vida adulta. Para ele, a saúde psicológica é alcançada por quem, através de uma adequada integração dos sistemas biológico, individual e social, consegue constituir uma sólida identidade.

Festa de aniversário

A dimensão biológica é a base morfofisiológica que permite o desenvolvimento das demais dimensões pelo princípio epigenético (semelhante ao entendimento de Piaget). A dimensão social é a que ocorre nas relações culturais no meio em que a criança vive. A dimensão individual é o modo idiossincrásico de articular as dimensões anteriores.   Esta   dimensão   será   a   principal   responsávepor garantir a consolidação de sua identidade. Erikson destaca, na criança ao nascer, aspectos relacionados ao organismo, ao ego e à sociedade. Como organismo, a criança dispõe de uma estrutura neurobiológica geradora de impulsos responsáveis pela energia motivadora de condutas. Como ego, ela é um indivíduo particular com suas peculiaridades e potencialidades originais. Como membro da sociedade, interage com o ambiente de quem recebe influências e também se torna capaz de influenciar.

Os oito estágios do desenvolvimento:
 

1 - Confiança básica x Desconfiança básica (do nascimento até 1 ano de idade)

     

Nesse estágio, é marcante a dependência da criança de cuidados externos por parte dos adultos, particularmente de sua mãe. A figura materna é central nessa fase e é quem representa o "mundo" para a criança. O modo como a mãe acolhe e cuida da criança é o modo como o mundo "abre seus braços" para recepcioná-la. Se a criança é devidamente atendida em suas necessidades fundamentais, tais como, alimentação, higiene, conforto, carinho etc. ela aprende e desenvolve um sentido de confiança que se estenderá a futuras experiências em sua relação com o mundo. Segundo Erik Erikson, esse é o ponto crucial dessa idade.

Se a experiência vivenciada  for positiva, a  criança estará apta a  seguir para a idade seguinte  de  modo  seguro.  Entretanto,  se  as  suas experiências  vividas  forem insatisfatórias,  haverá o desenvolvimento  de  um sentido de  desconfiança e a criança poderá se tornar insegura e temerosa em suas relações futuras. Nessa idade, a criança passa a reconhecer o seu ambiente como familiar. Sua grande conquista é superar o medo do abandono e a ansiedade durante os períodos de ausência materna.

bebê

2 - Autonomia x vergonha e dúvida (2 a 3 anos de idade)

Durante essa fase, a criança já consegue se deslocar de um lugar a outro, aprende a controlar os esfíncteres, desenvolve a fala e reconhece suas novas habilidades com um marcante  sentido  de  autonomia  e  afirmação  de  sua  vontade. Para  afirmar-se, busca   conquistar  seu   espaço  por  si  mesma,   dirigir-se  pela  própria  vontade conquistar seu espaço por si mesma, dirigir-se pela própria vontade e estabelecer seus próprios limites. Por outro lado, se na tentativa de superar os desafios e demandas do ambiente, a criança não obtiver êxito no desempenho de suas habilidades, ela se dá conta do quanto ainda é dependente do adulto. Assim, surge um sentido de dúvida em relação à real liberdade para afirmar sua autonomia e viver com independência. Tal percepção é causa de insegurança e medo. Se essa dúvida se acentua, pode causar um sentido de vergonha. A vergonha na criança pode se expressar na necessidade de não ser vista ou pode se manifestar também com crises de irritação e choro ou outras reações emocionais exaltadas. Embora a criança já se veja inserida no mundo dos adultos, suas ações ainda esbarram em inúmeras limitações. Nesse sentido, a posição dos pais deve ser de firmeza e tranquilidade, permitindo que seja devolvido à criança o sentido de segurança e de autonomia.  Em sua expressão saudável, esse processo poderá contribuir na construção de sentimento de tolerância na criança.

escola Crianças

3 - Iniciativa x culpa (3 a 6 anos de idade)

 

No início dessa fase, a criança já reconhece suas habilidades, já tem consciência sobre si mesma e seu meio. O seu mundo  se amplia em novos cenários e contextos sociais, se tornando cada vez mais descentralizado de si mesma e incitando a criança a avançar na direção de novas conquistas. Sua resposta caracteriza-se pelo sentido de iniciativa observada na execução de tarefas do cotidiano, no autocuidado, no protagonismo em várias atividades trabalhadas em função de objetivos definidos. É a afirmação da objetividade.

Nesse contexto, criança se sente compelida a assumir responsabilidades, como por exemplo, hábitos de higiene, alimentação, seus brinquedos, os irmãos menores, pequenas tarefas de casa etc. Na  interface  entre  a  criança  e  as demandas de seu ambiente,  suas reais capacidades são colocadas à prova. Não consciente de seus limites, ela avança inapropriadamente no espaço dos outros e, ao se dar conta de que existem limites e discordância em relação à sua conduta, a criança passa a sentir frustração e culpa. Isso é fundamental para o treinamento dos papéis sociais, principalmente na família, mas também em outros cenários frequentados por ela. Acentua-se o embate entre expectativas e desempenho, tendo o pai e a mãe como primeiras e principais referências. O desenvolvimento da criança nessa fase promove o equilíbrio e a integração do Id, Ego e Superego. Sua percepção acerca das diferenças sexuais e do desempenho dos diversos papéis sociais, juntamente com sua análise sobre as expectativas do meio, contribui para o desenvolvimento de sua identificação psicossexual e social. Segue um período de grande aprendizagem em níveis psicomotor e cognitivo que permitirão à criança o avanço em seu desenvolvimento.

4 - Capacidade x inferioridade (6 a 12 anos de idade)

 

Esse período coincide com o ingresso da criança na fase escolar, quando sua rede social se amplia e há um significativo aumento na complexidade de suas tarefas e das expectativas com relação ao seu desempenho. Embora a criança experimente novas conquistas, ela pode não atingir o nível de exigência esperado por aqueles que são suas referências (os pais, os professores). Além disso, ao se comparar com os adultos em relação à sua capacidade de realização, a criança percebe suas limitações. Devido a isso, ela pode desenvolver um sentido de inferioridade por não alcançar as metas e as expectativas daqueles. Nesse contexto desafiante, a criança se empenha em um turbilhão de experiências, visando explorar e conquistar o mundo e atender às expectativas sobre ela depositadas. 

Apresentando em aula

O resultado mais saudável é a compreensão por parte da criança de que seu modo de pensar e agir é diferente dos adultos e, consequentemente, a necessidade de se identificar e conviver com outras crianças de sua mesma faixa etária. A partir daí, ela se volta para questões relacionadas ao seu grupo. É uma etapa marcada por intensificação no processo de socialização.

5 - Identidade x Difusão (12 a 20 anos de idade)

A criança pré-púbere vivia, até então, um período de estabilidade e confiança com relação ao seu próprio corpo e seu papel na sociedade. Essa situação tranquila é subitamente abalada a partir do início da puberdade e o adolescente agora necessita buscar um novo equilíbrio a partir de uma dinâmica e contínua reavaliação de si mesmo. Essa fase, caracterizada por mudanças físicas, psíquicas e pela maturação sexual, é marcada pelo processo de aquisição de uma identidade psicossocial e pela busca de definição de seu papel no mundo. Erikson denominou de moratória social a esse período de pausa, de vivência e resolução de conflitos em que o adolescente se prepara para assumir responsabilidades futuras da vida adulta. Seu posicionamento na sociedade do ponto de vista ético, moral, político, religioso, vocacional e profissional, sexual e afetivo, entre outras questões, marcam uma busca constante, carregada de ansiedade e angústia. 

Colegas de classe

Se bem sucedidos,  os esforços para integrar essas diversas questões poderão conduzir à formação de uma sólida identidade. Caso contrário, a difusão da identidade irá conduzir à confusão de papeis, dificuldade de se encontrar, incertezas, insegurança em fazer escolhas etc. Essa bipolaridade  (identidade  versus  difusão)  é  dinâmica e  se  for resolvida ainda na adolescência, poderá  prevenir transtornos na vida adulta. O adolescente, em busca de afirmação, se identifica com seus pares,  sendo  o seu comportamento marcado pela convivência em grupos. Suas transformações físicas e a maturidade sexual acabam conduzindo às primeiras experiências sexuais. Na formação de identidade, o adolescente escolhe, entre as pessoas mais importantes para ele, algumas que serão modelos de referência para ele. Entre elas, geralmente estão seus pais, professores ou outras pessoas que lhe inspiram confiança. Além desses, outros modelos que podem ser inspiradores como referência, incluem líderes religiosos, políticos, jogadores, atletas, artistas etc.

Young Love

6 - Intimidade x isolamento (20 a 30 anos de idade)

 

Enquanto a fase anterior é decisiva para consolidar a identidade, esta fase é marcada por ser um passo definitivo para a vida adulta. Essa é a idade em que o indivíduo já é capaz de estabelecer vínculos com responsabilidade (afetivos, profissionais, políticos etc.), mesmo que isso implique em algum tipo de renúncia ou sacrifício. Entretanto, se o indivíduo não desenvolver essa capacidade de interação madura com o mundo em que vive, há o risco de haver isolamento. O amadurecimento nessa fase é necessário para uma vida estável, com relações de amor e amizade, compromisso com trabalho, família etc.

7 - Criação x estagnação (30 a 60 anos de idade)

 

Essa fase caracteriza-se pelo sentido de criação, em que o indivíduo busca agir sobre o mundo responsavelmente para recriá-lo com suas ideias, ações, filhos etc. Há uma maior descentralização do ego e sua atenção e esforços se tornam mais voltados para o caráter produtivo de sua vida e seu legado para as gerações futuras. 

8 - Integridade x desespero (após 60 anos de idade)

 

Nessa fase o indivíduo desenvolve o sentido da integridade, que passa pela aceitação do ciclo vital, capaz de transcender do limite individual para os futuros ciclos relacionados à evolução da humanidade. É o momento de uma retrospectiva e balanço sobre conquistas e fracassos e perceber o futuro incerto à medida que idade avança. Nesse sentido, há a possibilidade desejável de ter-se identificado consigo e com o mundo, superado o isolamento e se tornando íntimo e produtivo. Mas, por outro lado, pode haver o sentido de desespero relacionado com a difusão de identidade, a negação da intimidade e a sensação de fracasso produtivo. 

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